sábado, 8 de dezembro de 2007

Teimosias

Após chegar em casa, a noite, com o único e simples objetivo de dormir, eu acendo a luz e me deparo com o novo aquário dentro de casa. Não sei quem foi que deu este peixe para a mamãe, mas tenho certeza que pensaria duas vezes antes de fazê-lo se soubesse do destino desse pobre animal. E o pior de tudo é que ela será teimosa o suficiente para não abrir mão do peixe e dirá ainda que tomará conta dele. E eu não quero um cadáver aqui em casa, mesmo que seja de um pequeno animal.

Então, apesar de estar cansado, vou à cozinha, tomo um pouco de água e penso se peixes podem comer trigo. Se não, este aqui em casa vai ter um problema, porque pão foi a primeira coisa que eu encontrei e a única que eu irei procurar. Ou ele come isso ou ele morre, já que provavelmente passou o dia inteiro sem comer. Após fazer algumas migalhas, vou até o aqúario e vejo o peixe inerte. Fico observando-o por alguns segundos, esperando alguma reação. Nada. Penso se o infeliz já morreu antes da hora. Apesar disto, fico jogando as migalhas dentro do aquário. Então, segundos depois, ele mexe uma parte da cauda. Pronto. É o suficiente para saber que ele está vivo.

Após me preparar pra dormir, volto pra cozinha e, no caminho, vejo o peixe dando voltas frenéticas pelo minúsculo aquário. Se peixes sentem emoções, aquele devia estar feliz com a sua primeira comida desde que chegou nesta casa. Ou então devia estar muito irritado porque algum idiota o acordou, apesar de não ter tocado no aquário, já que em toda loja deste tipo nas quais eu fui sempre vi um aviso: "Não toque no aquário!". Deve haver um motivo. Me explicaram também que não se deve fazer isso porque os peixes se assustam e isso faz mal pra saúde deles. Será que vendem comprimidos para dor de cabeça em tamanhos microscópicos também?
Amanhã vou tentar convencer a minha mãe de desistir da idéia de ter um peixe em casa, apesar de achar que seria mais fácil eu conseguir convencer o próprio peixe disso. Bom, não custa tentar.

Na manhã seguinte:

- Bom dia, filho!
- Bom dia
- Já viu o meu peixinho?
- Esse peixe vai morrer, mãe. A senhora não vai tomar conta dele.
- É claro que eu vou tomar conta.
- Assim como a senhora tomou conta de todas as rosas que a senhora recebeu. Pena que todas elas tenham morrido por ficarem dentro do mesmo vaso por várias semanas seguidas até ficarem da cor deste café.
- ... (ignorando)
- A senhora sabe todo o trabalho necessário para se manter um peixe vivo? Oxigenação da água, limpezas periódicas do aquário, regulação da incidência de luz, controle regular da alimentação, etc?
- ... (ignorando novamente). Ele não vai morrer.
- Então é melhor a senhora começar trocando a água, pois ela já está branca.
- É por causa da comida dele que eu dei ontem. Eu cheguei e vi ele parado. Aí eu comecei a mexer com ele até que ele se moveu. Ele ficou sozinho, o dia inteiro.
- O aquário não é tão grande assim.
- Eu vou comprar uns peixes pra fazerem companhia pra ele.
- Alguns peixes se atacam por territorialidade.
- Até os da mesma marca?
- Sim... até aqueles que tem o mesmo código de barras.

Desisto. É mais fácil eu ensinar matemática pro novo inquilino do que convencê-la de que está errada.