sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Poderia ter sido...

Dar a cara a tapa. É uma expressão curiosa , realmente. Após ouvi-la pela primeira vez, você a associa a ter coragem para ser criticado, para enfrentar obstáculos sem medo de se ferir. Porém, ao crescer um pouco mais, você entende o que talvez seja o verdadeiro significado desta expressão, ainda mais se você a sentiu na pele, literalmente falando, ou facialmente, dependendo da interpretação.

É uma variação da famosa "prefiro me arrepender do que eu fiz do que pelo o que eu deixei de fazer." Esta última eu considero um tanto quanto estúpida, já que ela não se aplica apenas ao campo de relacionamentos. Eu posso me arrepender pelo resto da minha vida por palavras que eu poderia ter controlado ou por ações que eu poderia ter evitado.

Agora, se você jogar essa frase apenas no campo das interações com o sexo oposto, então a idéia se torna apropriada. Muitos relacionamentos que poderiam ter iniciado simplesmente nunca existiram por causa do famoso medo de tentar. Talvez os dois fossem se casar, ter filhos e tudo o mais o que tinham direito, mas esse futuro jamais ocorreu porque nunca houve um primeiro passo.

Devo afirmar também que existem estradas de sentido único, que muitas vezes confundimos com estradas de sentido duplos e recíprocos. Porém, jamais saberemos se nunca formos até o final da estrada e descobrirmos se ela realmente volta. Se não voltar, beleza. Você não irá morrer por isso, a não ser que você seja um maluco suicida. O tempo é capaz de destruir obras muito maiores do que simples sentimentos. Logo, não deverá demorar muito.

Porém, se a estrada voltar, você irá sorrir sozinho na rua, e todos olharão pra você e pensarão que você é louco, mas o mundo ao seu redor será a sua última preocupação neste momento. E com razão. Você venceu seu medo e ganhou muito em troca desta façanha. Nada mais justo.

Mesmo que o seu carro quebre ao chegar no final da estrada, você saberá que nem tudo estará perdido. Aprendemos melhor com os nossos erros do que com os nossos acertos. E o que não nos mata, nos fortalece. Sendo assim, após aprender a lição, voltaremos mais fortes e confiantes, já que batemos lá no fundo do poço e voltamos.

Aprendemos que, nestes casos, a incerteza do "se" é muito pior do que a certeza do "não".

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Imutáveis

- Ei, Leandro, qual é o ônibus que eu pego pra ir lá pra Augo Montenegro?

- Augusto Montenegro?

- É.

- Em geral, os ônibus com a listra verde passam por lá. Tapanã Ver-O-Peso, Conj. Maguari, Icoaraci...

- Ah, tá. E onde é que eu pego?

- Aqui mesmo na Almirante.

- Tá

Minutos depois...

- Eu tenho que ir lá na Augo Montenegro pra pegar o meu título de eleitor que foram pedir lá em casa. Uma mulher chegou lá, falou não sei o quê, dizendo que tinha que pegar o meu título de eleitor pra fazer não sei o quê pra ajudar os bairros mais pobres de Belém.

- E... a senhora simplesmente entregou?

- Entreguei. Só que isso faz duas semanas e ela não veio devolver ainda.

- Hum... então parece que a senhora vai ter que ir lá buscar mesmo.

- Pois é. Ela falou que ela mora na Augo Montenegro perto de um posto de gasolina, numa casa azul, perto de sei lá o quê, uma comunidade parece.

- A senhora não tem o endereço?

- É esse que eu to falando.

- Hum... olha... a senhora tá com um problemão. Existem vários postos de gasolina na Augusto Montenegro. A senhora realmente entregou o título de eleitor pra alguém desconhecido?

- Ela falou que era de um serviço que fazia sei lá o quê que ia ajudar os bairros mais carentes de Belém, parece.

- Mas esse é o problema: ela não se identificou. E por mais que tivesse se identificado, a senhora deveria pegar algum número de contato, no mínimo o endereço. Pedia pra ela anotar num papel e deixar com a senhora, algum cartão, algo físico.

- Pois é. Mas ela até pediu o meu CPF, mas não estava com ele na hora. Então ela levou o título de eleitor.

- Porque ela não pegou apenas o número dos documentos?

- Ela falou que precisava do documento pra fazer sei lá o quê.

- Ah... tá. (Isso é muito esclarecedor, realmente).

- Mas eu entreguei porque a vizinha falou que ela era de confiança, que ajudava as pessoas mesmo.

- A senhora conhece essa vizinha?

- Conheço.

- Então vá falar com ela. Peça o endereço exato dessa mulher e peça também para ela anotar, só pra ajudar caso a senhora esqueça...

- Mas essa mulher levou os documentos de todas as pessoas da rua. Foi por isso que eu entreguei. Se ela for dar o calote, eu não vou sozinha pro fogo.

- ... (um raciocínio extremamente lógico, coerente e inteligente. Pena que eu seja tão estúpido a ponto de não comprêende-lo.)

- Eu ia lá agora procurar pela casa dela, mas acho melhor voltar pra casa.

- Eu também. ("A coragem está na ignorância". Faz sentido)

- E o pior é que depois eu fiquei pensando: como é que eu pude ser tão besta?

- Acontece...

- E depois eu falei pro meu marido. Pra quê? Ele esculhambou comigo: "Tu tá doida? Como é que tu vai entregar o teu título pra alguém que tu nem conhece? Quer dizer que se chegar alguém aqui e pedir algo, tu vai entregar?". Aí eu falei: "Claro que não! Eu não to doida".

- ... (hahahahahahahahaha)

- Aí ele continuou falando: "Tu acha mesmo que alguém vai ter dinheiro pra dar uma cesta básica pra cada morador daqui?"

- ... (Esse cara está no meu time.)

- Mas eu falei que a mulher ia devolver. Aí ele ficou calado, só me olhando.

- ... ("Não tem jeito mesmo". Acho que ele deve ter pensado isso. Eu pensei, pelo menos). Mas ela ainda não devolveu, não é?

- Não. Ele perguntou ontem: "E cadê a mulher? Já veio devolver?". Eu falei que não e ele começou a me esculhambar de novo.

- Pois é. Volte pra casa, fale com a sua viznha, peça pra ela anotar num papel o endereço desta mulher e, se tiver, um número de contato também. Depois a senhora me traga e eu verei onde é.

-Ah, tá.